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Uma equipa de investigadores liderada por Julie Ribot e Luísa Lopes, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), mostra que níveis elevados de uma proteína sinalizadora pró-inflamatória libertada por células imunitárias nas meninges cerebrais medeiam perdas cognitivas precoces na doença de Alzheimer. Essas descobertas, publicadas hoje na revista científica Cell Reports*, mostram a importância de um equilíbrio preciso do sistema imunitário para o funcionamento do cérebro.

A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada por déficits cognitivos induzidos por disfunção sináptica. Devido à falta de tratamentos disponíveis, é fundamental compreender as causas da doença. A neuroinflamação tem sido associada à etiologia da doença. Recentemente, o mesmo grupo de pesquisadores identificou que uma população de células imunitárias, os linfócitos T gama-delta, residem nas meninges cerebrais, uma interface direta entre o cérebro e o sistema imunitário. Em condições saudáveis, estas células são importantes para a cognição.

Agora, os investigadores mostraram que os déficits cognitivos observados nos estágios iniciais da doença de Alzheimer são mediados pela liberação de IL-17, uma molécula pró-inflamatória, por essa população de células. Usando modelos animais, os investigadores verificaram que as alterações verificadas em estágios iniciais da doença foram observadas em fêmeas, destacando a importância dos dimorfismos sexuais na progressão da doença de Alzheimer.

Para compreender a importância desta molécula sinalizadora, os investigadores realizaram ensaios com anticorpos neutralizantes, que, neste caso, bloqueiam a atividade especifica desta molécula sinalizadora. “É importante salientar que os déficits cognitivos nos estádios iniciais bem como a disfunção sináptica observados nestes modelos foram evitados quando os animais foram tratados com anticorpos neutralizantes de IL-17, sugerindo que a inflamação está a ditar os primeiros sintomas da doença”, explica Julie Ribot, investigadora principal deste estudo.

“Necessitamos de compreender os mecanismos que levam ao desenvolvimento precoce da doença de Alzheimer para que se consigam desenvolver novas estratégias terapêuticas. Além disso, novos estudos podem levar ao uso de IL-17 como um biomarcador de estágios iniciais, melhorando o diagnóstico da doença de Alzheimer.”, acrescenta a investigadora Luísa Lopes.

Este trabalho foi realizado no iMM, em colaboração com investigadores da Univ. Lille, Inserm e Université Côte d’Azur, CNRS, UMR 7275, Valbonne, France. O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e Prémio Mantero Berland, Santa Casa da Misericórdia.

*Helena C. Brigas, Miguel Ribeiro, Joana E. Coelho, Rui Gomes, Victoria Gomez-Murcia, Kevin Carvalho, Emilie Faivre, Sara Costa-Pereira, Julie Darrigues, Afonso Antunes de Almeida, Luc Buée, Jade Dunot, Hélène Marie, Paula A. Pousinha, David Blum, Bruno Silva-Santos, Luísa V. Lopes, Julie C. Ribot (2021). IL-17 triggers the onset of cognitive and synaptic deficits in early stages of Alzheimer’s disease. Cell Reports 36(9)109574.