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Uma nova tecnologia de imunoterapia criada no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), foi pela primeira vez usada para tratar doentes com leucemia mielóide aguda (LMA), o tipo mais agressivo de cancro do sangue. O ensaio clínico agora iniciado nos Estados Unidos e que envolve 28 doentes com LMA, testará, pela primeira vez, a  segurança e eficácia de um tipo de células imunitárias, as “Delta One T (DOT) cells”, caracterizadas pelo grupo de investigação liderado por Bruno Silva Santos, vicediretor do iMM e professor da FMUL.

Apesar de alguns avanços no seu tratamento, a leucemia mielóide aguda (LMA) continua a ser o tipo de cancro do sangue com pior prognóstico para os doentes, com uma taxa média de sobrevivência aos 5 anos de apenas 25%. Perante a dificuldade de tratar esta doença através de quimioterapia ou outras drogas previamente aprovadas, o grupo de Bruno Silva Santos propôs-se desenvolver um tratamento para LMA inovador baseado no sistema imunitário, isto é, uma nova imunoterapia.

Mediante um longo processo de análise da capacidade anti-tumoral de vários subtipos de glóbulos brancos, a equipa – em particular Daniel Correia, à altura estudante de doutoramento – focou o seu trabalho nas “Delta One T (DOT) cells”, um grupo de células nunca testada em ensaios clínicos, nomeadamente para tratamento do cancro. Um dos grandes atrativos de usar este tipo de célula imunitária, que não respondem a diferenças genéticas entre indivíduos, é poder produzi-las a partir de dadores saudáveis, criando “bancos de células” para tratar muitos doentes geneticamente diferentes – ambicionando uma imunoterapia celular “universal”.

A investigação destes cientistas do iMM e FMUL demonstrou que, a partir de uma amostra de sangue de dadores saudáveis, era possível produzir biliões de “DOT cells” com grande capacidade de destruir células tumorais de várias origens, incluindo a LMA. O desenvolvimento e aceleração desta tecnologia para produto de imunoterapia levou Daniel Correia e Bruno Silva Santos, juntamente com Diogo Anjos (CEO), a fundar em 2013 a empresa Lymphact, spin-off do iMM e financiada por investimentos nacionais privados, da Portugal Ventures e dos Busy Angels. A Lymphact prosseguiu com estudos pré-clínicos cujo sucesso atraiu o interesse da empresa de biotecnologia britânica, GammaDelta Therapeutics (GDT), que adquiriu a Lymphact em 2018, num dos maiores êxitos da biotecnologia portuguesa.

Paolo Paoletti, CEO da GDT, diz: “As características biológicas das “DOT cells” serão a base da nossa plataforma inovadora de imunoterapia celular do cancro podendo constituir uma base para terapias alogénicas (a partir de células de dadores saudáveis) para tumores hematológicos e sólidos”. Já no seio da GDT, o produto designado GDX012 passou as etapas necessárias e iniciou agora um ensaio clínico em vários centros médicos dos Estados Unidos, após aprovação pela FDA (Food and Drugs Administration). Os objetivos do ensaio clínico são avaliar a segurança e eficácia de várias doses deste novo produto em doentes com LMA previamente tratados com quimioterapia, mas que ainda apresentam células tumorais no seu sangue.

Bruno Silva Santos diz: “É para nós um enorme motivo de satisfação e orgulho ver as nossas descobertas, inicialmente do foro da Imunologia fundamental e depois progressivamente testada em modelos pré-clínicos de cancro, ao longo de uma década, finalmente chegar aos doentes. É a maior ambição de um cientista da área da Biomedicina. Os próximos anos dirão quão eficaz, além de segura, esta imunoterapia celular é para tratar LMA. E estamos a trabalhar na sua aplicação a diversos outros tipos de cancro, nomeadamente “cancros sólidos” como o coloretal. Acreditamos que a via da imunoterapia celular possa trazer novas alternativas de tratamento para doentes que tanto delas necessitam”.