Este site utiliza cookies. Ao utilizar este site está a consentir a sua utilização de acordo com a nossa Política de Cookies.

concordo
voltar

Um novo estudo liderado por Gonçalo Bernardes, investigador principal no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM; Portugal) e Professor Catedrático na Cambridge University (Cambridge, Reino Unido), publicado recentemente na revista científica ACS Central Science* descobriu um composto eficaz no tratamento da infeção por SARS-CoV-2 que poderia ser amplamente aplicado no tratamento contra diferentes variantes do vírus.

Os investigadores descobriram que o composto piperlongumina (PL), que se encontra em algumas variedades de pimenta, tem um efeito antiviral potente no tratamento da infeção por SARS-CoV-2 em ratinhos.

“Verificámos que a PL atrasa a progressão da doença e reduz a inflamação pulmonar num modelo de ratinhos que mimetiza a infeção por SARS-CoV-2″, diz Gonçalo Bernardes, líder do estudo. “A ação deste composto no organismo, que já foi estudado no tratamento do cancro, induz uma resposta de stress nas células do próprio organismo. No nosso trabalho vimos que a resposta induzida pelo composto é seletiva para as células infetadas. Isto é bastante vantajoso porque ao atuar sobre as células infetadas pelo vírus e não sobre o vírus em si, a PL torna-se um potencial tratamento antiviral que pode ser eficaz nas variantes de SARS-CoV-2 futuras ou mesmo em vírus diferentes”, continua a explicar Gonçalo Bernardes. Os investigadores testaram o tratamento com PL em ratos infetados com as variantes alfa, delta e omicron do vírus SARS-CoV-2 e o tratamento é capaz de reduzir a quantidade de vírus nas infeções pelas três variantes diferentes.

Com a intenção de compreender a relevância deste composto como tratamento, o efeito da PL foi comparado com a plitidepsina, um antiviral administrado por via subcutânea que já é conhecido por reduzir a carga viral na infeção por SARS-CoV-2. “No caso da PL fomos capazes de administrar por via intranasal, que se acredita ser uma melhor via de administração nos casos de SARS-CoV-2 uma vez que mucosa nasal é frequentemente o local primário de infeção. Demonstrámos não só que a administração intranasal de PL não é tóxica, como também que o tratamento é mais eficaz em relação à plitidepsina, um antiviral potente que está atualmente a ser testado em ensaios clínicos em humanos”, acrescenta Cong Tang, primeira autora do estudo e investigadora no laboratório do Gonçalo Bernardes.

Embora a descoberta de vacinas tenha contribuído de forma determinante para o controlo da pandemia da SARS-CoV-2, é essencial continuar a encontrar e desenvolver tratamentos, especialmente porque ao longo do tempo o vírus continua a adaptar-se ao novo hospedeiro. O composto estudado neste trabalho – a piperlongumina – pode ser particularmente relevante como antiviral uma vez que exerce a sua ação nas células do hospedeiro, em vez de atuar no vírus. Isto faz da PL um potencial tratamento eficiente nas próximas variantes da SARS-CoV-2 e mesmo em surtos de infeções causadas por outros vírus.

Este trabalho foi desenvolvido no iMM (Portugal) em colaboração com a University of Cambridge (UK) e a Champalimaud Foundation (Portugal). Este estudo foi financiado por uma Marie Skłodowska-Curie grant (Agreement No. 101038053) do European Union’s Horizon 2020 research and innovation program.

*Cong Tang, Ana R. Coelho, Maria Rebelo, Hannah Kiely-Collins, Tânia Carvalho, and Gonçalo J. L. Bernardes. 2023. A Selective SARS-CoV‑2 Host-Directed Antiviral Targeting Stress Response to Reactive Oxygen Species. ACS Central Science. DOI: 10.1021/acscentsci.2c01243