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Ação conjunta entre instituições de investigação científica é determinante para combater o impacto do vírus SARS-CoV-2 na sociedade

Foi criado o consórcio Serology4Covid entre 5 institutos de investigação científica da área de Lisboa e Oeiras (IGC, iMM, CEDOC-NMS, ITQB NOVA e iBET) para implementar um ensaio serológico para COVID-19 que permite a utilização alargada a nível nacional. A iniciativa tem o apoio do Fundo de Emergência COVID-19 da Fundação Calouste Gulbenkian, da Sociedade Francisco Manuel dos Santos e da Câmara Municipal de Oeiras.

Cerca de 80% dos casos detetados de COVID-19 têm sintomas leves e moderados (febre, tosse e cansaço). Estima-se que uma larga percentagem de casos, provavelmente até mais de 25% poderão não apresentar quaisquer sintomas apesar de permitirem a propagação da infeção. Os testes serológicos que estão a ser desenvolvidos vão permitir reconstruir o passado e identificar quem esteve infetado com o vírus SARS-CoV-2, permitindo ter um panorama mais realista e completo do que se passou no país, para assim gerir melhor o futuro. “É essencial desenhar ensaios serológicos específicos para a COVID-19, a um preço acessível que possam ser utilizados à escala nacional em estudos epidemiológicos: é essa a nossa ambição” diz Mónica Bettencourt-Dias, Diretora do IGC, Instituto Gulbenkian de Ciência.

A implementação de um ensaio serológico escalável e económico é essencial para perceber a expansão da imunidade na população e para suportar a implementação de novas estratégias para controlar a propagação e/ou minimizar as suas consequências para a saúde, sociedade e economia. “Estão a ser desenvolvidos protótipos em todo o mundo, mas são dispendiosos e muitos apresentam uma elevada percentagem de resultados que são falsos negativos e falsos positivos e é preciso ter um instrumento melhor e mais acessível a todos; é aqui que nós, cientistas, podemos contribuir” diz Bruno Silva-Santos, vice-diretor do iMM, Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. O objetivo é complementar a capacidade já instalada aumentando a abrangência dos testes serológicos.

O consórcio constituído vai beneficiar da experiência e capacidade instalada de cada um dos parceiros, o que irá permitir dar uma resposta mais vantajosa científica e economicamente, mas também num curto espaço de tempo. Assim, o iBET – Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, já se encontra a produzir os antigénios necessários para o desenvolvimento do ensaio em tempo record. Paula Alves, CEO do iBET, afirma que “a Unidade de Biológicos do iBET produz proteínas à escala piloto para a indústria farmacêutica em projetos de I&D e para fases pré-clínicas. Juntamo-nos a este projeto para ajudar o país, para que localmente seja possível garantir aos membros do consórcio as quantidades de antígenos necessários ao desenvolvimento do ensaio serológico, nesta fase particularmente crítica”.

Ao IGC, iMM, CEDOC-NMS e ITQB NOVA cabe a coordenação entre si da implementação e validação dos testes com amostras de sangue de pessoas que estiveram infetadas com a SARS-CoV-2. Os primeiros ensaios estão já em curso.

“Estamos a otimizar um ensaio, já adotado por alguns hospitais dos Estados Unidos, de modo a torná-lo ainda mais económico e autossuficiente. De modo importante, este ensaio permitir-nos-á quantificar possíveis diferenças na produção de anticorpos entre portadores assintomáticos, casos ligeiros e casos mais graves, com importantes repercussões a nível da saúde individual e pública”, diz Helena Soares, Investigadora do CEDOC-NMS, Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School da Universidade Nova de Lisboa. Neste primeiro passo são necessários bioquímicos (ITQB-NOVA), engenheiros (iBET) e imunologistas e virologistas (CEDOC-NMS, IGC e iMM). O desafio seguinte para todos será encontrar parceiros industriais em Portugal com os quais colaborar na massificação destes testes.

Foi constituído um conselho consultivo que apoiará o Consórcio na tomada de decisão, na produção de pareceres e aconselhamento no desenvolvimento e implementação do ensaio. Este conselho é constituído por prestigiadas figuras, nacionais e internacionais, na área da infeciologia, Filipe Froes (Diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente), da imunologia, Thiago Carvalho (Diretor do Programa de Doutoramento da Fundação Champalimaud) e Florian Krammer (Professor na Icahn School of Medicine) que desenvolveu protocolo de serologia a ser utilizado e já aprovado pela FDA.

“O resultado deste trabalho conjunto beneficia a saúde pública nacional, pois os protocolos experimentais que resultarem destes ensaios vão ser disponibilizados para toda a comunidade de uma forma aberta. A sua implementação em larga escala terá de ser coordenada com o governo”, diz Cláudio M. Soares, diretor do ITQB NOVA, Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa. Cláudio Soares esclarece que, “o Consórcio já encetou esforços para articular com as autoridades de saúde, nomeadamente com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a melhor forma de aplicação destas ferramentas para o país”.

O consórcio pretende, ainda, alargar a participação a entidades privadas que já têm vindo a demonstrar interesse em apoiar esta ação sem precedentes e de inteira partilha de interesse pelo bem comum.