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Um novo estudo liderado por Ana Sebastião, investigadora principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (iMM, FMUL; Portugal) em colaboração com investigadores da Lancaster University (Reino Unido) mostra agora que o uso a longo prazo de canábis ou substâncias à base de canábis prejudica a memória. O trabalho publicado na revista científica Jornal of Neurochemistry* revela as consequências para consumidores recreativos e também para quem usa estas drogas no combate à epilepsia, esclerose múltipla e dor crónica.

Com a legalização em vários países da canábis ou drogas derivadas da canábis, tem existido um aumento no número de consumidores de longo prazo, estando disponíveis variedades mais potentes para consumidores recreativos. Já se sabia que o uso de quantidades elevadas e regulares de canábis aumenta o risco de desenvolver problemas de saúde mental, incluindo psicose e esquizofrenia. No entanto, ainda pouco se sabia sobre os potenciais efeitos secundários negativos da exposição a longo prazo aos canabinóides.

Agora, o grupo de investigadores liderado por Ana Sebastião, em colaboração com Neil Dawson e o seu grupo na Lancaster University estudaram os efeitos de um fármaco canabinóide específico (designado por WIN 55,212-2) e descobriram que ratinhos expostos a estas substâncias desenvolvem “deficiências de memória significativas “. Os estudos de imagem do cérebro mostraram que este composto prejudica a função nas principais regiões envolvidas na aprendizagem e na memória. Para além disso, a exposição a longo prazo prejudica a capacidade destas regiões do cérebro de comunicarem entre si, o que sugere ser a causa dos efeitos negativos destes compostos na memória.

“De forma geral, o nosso trabalho mostra claramente que a ingestão prolongada de canabinóides, quando não usada por razões médicas, tem um impacto negativo na função cerebral e na memória. É importante entender que o mesmo composto que pode restabelecer um equilíbrio sob certas condições de doença, como epilepsia ou esclerose múltipla, pode causar desequilíbrios acentuados em indivíduos saudáveis. Como para todos os medicamentos, as terapias baseadas em canabinóides não têm apenas ações benéficas para a doença, têm também efeitos secundários negativos”, afirma Ana Sebastião. Um estudo anterior realizado pela mesma equipa de investigadores mostrou que a exposição aguda aos canabinóides resulta em défices de memória, um efeito que pode ser evitado através da administração simultânea de um fármaco da família de cafeína. “Estes resultados são muito importantes para o desenvolvimento de estratégias farmacológicas que tenham como objetivo diminuir os efeitos secundários das terapias à base de canabinóides, que são eficazes contra vários distúrbios do sistema nervoso”, explica Ana Sebastião.

“Este trabalho oferece uma nova visão sobre como a exposição a canabinóides afeta negativamente o cérebro. A compreensão desses mecanismos é fundamental para entender como a exposição a longo prazo a canabinóides aumenta o risco de desenvolver problemas de saúde mental e problemas de memória; só a compreensão destes riscos permitirá combatê-los”, diz Neil Dawson.

Este estudo foi realizado no iMM, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e na Lancaster University como parte do projeto SynaNET financiado pelo Horizonte 2020 da Comissão Europeia.

 

*Mouro, F.M., Ribeiro, J.A., Sebastião, A.M., Dawson, N. (2018) Chronic, intermittent treatment with a cannabinoid receptor agonist impairs recognition memory and brain network functional connectivity. J Neurochem. [Epub ahead of print] doi: 10.1111/jnc.14549.