Este site utiliza cookies. Ao utilizar este site está a consentir a sua utilização de acordo com a nossa Política de Cookies.

concordo
voltar

Estudo na população residente em Portugal mostra que a imunidade conferida por infeção de pessoas vacinadas contra a COVID-19, confere até 8 meses de proteção contra a Omicron BA.5

Um novo estudo liderado por Luís Graça, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e por Manuel Carmo Gomes, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa), ambos membros da Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 (CTVC) da Direção Geral de Saúde (DGS), e publicado hoje na revista científica Lancet Infectious Diseases*, mostra que a proteção conferida pela imunidade híbrida contra a subvariante de SARS-CoV-2 Omicron BA.5, obtida pela infeção de pessoas vacinadas, mantém-se até pelo menos oito meses após a primeira infeção.

O estudo segue-se aos resultados publicados em Setembro pelos mesmos investigadores na revista científica New England Journal of Medicine** onde mostraram, através do estudo da população portuguesa largamente vacinada, que a infeção pelas primeiras subvariantes Omicron de SARS-CoV-2, em circulação em Janeiro e Fevereiro de 2022, conferia proteção considerável para a subvariante Omicron BA.5 que circula em Portugal desde Junho e que continua a ser a variante predominante em muitos países. No entanto, a estabilidade da proteção conferida pela chamada imunidade híbrida, a imunidade conferida pela combinação da vacinação e infeção, não era ainda conhecida.

“Em Setembro, tínhamos observado que a infeção pelas primeiras subvariantes Omicron conferia uma proteção para a subvariante BA.5 cerca de quatro vezes superior a pessoas vacinadas que não foram infetadas em nenhuma ocasião, mostrando a importância da imunidade híbrida para a proteção contra novas infeções. Agora mostramos que essa proteção conferida pela vacinação em conjunto com as infeções prévias é estável e mantém-se até pelo menos oito meses após a primeira infeção”, explica Luís Graça, colíder do estudo.

À semelhança do estudo anterior, os investigadores usaram o registo dos casos de COVID-19 a nível nacional até setembro de 2022, especialmente completo devido à obrigatoriedade legal de registar todos os casos de infeção por SARS-CoV-2 para ter acesso a baixa médica nos dias de isolamento obrigatório. “Usámos o registo nacional de casos de COVID-19 para obter a informação de todos os casos de infeções por SARS-CoV-2 na população com mais de 12 anos residente em Portugal. Os dados da população portuguesa permitem-nos concluir sobre a imunidade híbrida porque a vacinação abrangia já 98% da população estudada no final de 2021. A variante do vírus de cada infeção foi determinada tendo em conta a data da infeção e a variante dominante nessa altura”, explica Manuel Carmo Gomes, colíder do estudo.

Sobre os cálculos efetuados com estes dados, João Malato, primeiro autor do estudo explica: “Com estes dados, calculamos o risco relativo de reinfeção ao longo do tempo em pessoas vacinadas com infeções prévias pelas primeiras subvariantes Omicron de SARS-CoV-2, o que nos permite concluir sobre o nível de proteção contra uma reinfeção. Percebemos que a proteção mantém-se elevada 8 meses após o contacto com o vírus”.

“A proteção conferida pela imunidade híbrida é inicialmente de cerca de 90%, reduzindo-se ao fim de 5 meses para cerca de 70%, e mostrando uma tendência para estabilizar num valor de cerca de 65% ao fim de 8 meses, por comparação com a proteção em pessoas vacinadas e não infetadas. Estes resultados mostram que a imunidade híbrida conferida pela infeção por subvariantes anteriores de SARS-CoV-2 em pessoas vacinadas é bastante estável”, acrescenta Luís Graça sobre a proteção conferida pela imunidade híbrida.

Este estudo mostra que a infeção por subvariantes anteriores do vírus SARS-CoV-2, que causa COVID-19, tem a capacidade de conferir proteção adicional comparando com a proteção conferida pela vacinação apenas e que esta proteção é estável.

Este trabalho foi realizado no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM, Lisboa) e pela Direção Geral de Saúde, em colaboração com investigadores do Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Los Alamos National Laboratory (EUA). Este trabalho foi financiado pelo programa Horizon 2020 research and innovation da União Europeia, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal) e pelo National Institute of Health.

* João Malato, Ruy M Ribeiro, Eugénia Fernandes, Pedro P Leite, Pedro Casaca, Carlos Antunes, Válter R Fonseca, Manuel Carmo Gomes, Luís Graça. (2022) Stability of hybrid vs. vaccine immunity against BA.5 infection over 8 months. Lancet Infectious Diseases.

** João Malato, Ruy M Ribeiro, Pedro P Leite, Pedro Casaca, Eugénia Fernandes, Carlos Antunes, Válter R Fonseca, Manuel C Gomes, Luís Graça. (2022) Risk of BA.5 Infection among Persons Exposed to Previous SARS-CoV-2 Variants. New England Journal of Medicine. 387(10):953-954. Doi: 10.1056/NEJMc2209479.