Apesar dos esforços redobrados por parte da comunidade internacional para a erradicação da malária, esta doença continua a ter um enorme impacto global, com cerca de metade da população mundial em risco de ser infetada. Durante a infeção do hospedeiro humano, os parasitas Plasmodium, agentes da doença, possuem duas fases distintas do seu ciclo, cada uma num ambiente celular muito diferente.
Durante a fase hepática, um único esporozoíto do género Plasmodium invade um hepatócito e, enquanto aí se encontra, supostamente sem ser detetado pelo hospedeiro, dá origem a milhares de novos parasitas, os quais iniciarão a fase subsequente de infeção sanguínea. Apesar de apenas 10 a 20 novos parasitas serem gerados dentro de cada eritrócito infetado por cada ciclo de divisão, os ciclos consecutivos de lise e re-infeção causam uma resposta potente do hospedeiro, bem como os sintomas típicos da malária. Está a tornar-se consensual a ideia de que o controlo ou eliminação da malária não será atingível enquanto não tivermos um conhecimento mais profundo das interações complexas que ocorrem entre os principais agentes envolvidos: os parasitas Plasmodium e os seus hospedeiros.
O nosso trabalho atualmente em curso mostra que a teia de interações entre o Plasmodium e os seus hospedeiros tem vários níveis de complexidade, entre os quais a ativação da imunidade inata durante a fase hepática da infeção (Liehl et al., 2014. Nature Medicine), o estado nutricional do hospedeiro (dados não publicados), e uma relação antagonista entre as duas fases da infeção (Portugal et al., 2011. Nature Medicine). Todos estes fatores contribuem para um equilíbrio entre a replicação do parasita e a saúde do hospedeiro humano. Será necessária uma alteração profunda deste equilíbrio para um controlo eficaz deste parasita mortífero.